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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Copiado do Blog da Folha Patuense

Matéria do JORNAL DE FATO

JOÃO DE ARTUR E O SEU " ELIXIR DA ALEGRIA"


Cezar Alves
Da Redação

Patu - 12h. Um senhor negro, franzino, usando óculos escuros caminha devagar pela Rua da Capela, no bairro Santa Terezinha, periferia de Patu. Veste bermuda verde e uma camisa azul (de botão), sandália havaiana e um boné. Este é o jeito de ser e se vestir de João Artur, de 73 anos, um dos últimos artistas da região Oeste do Rio Grande do Norte que mantém viva a cultura de sair às ruas vestindo boi de reis e bonecos gigantes. "Aqui na região não tem mais quem procure proporcionar a alegria da meninada se vestindo de boi de reis e bonecos gigantes", diz Arlindo Nogueira, o comerciante que se encarregou de apontar o endereço onde ele morava ao DE FATO.

Estirou a mão para o cordial cumprimento com o repórter e foi logo lembrando: "de primeiro vocês vinha mais em minha casa. Hoje quando aparece é por acaso", disse em voz mansa. De fato, foi por acaso. A ideia era fazer uma reportagem retratando as dificuldades do bairro e o caminhar do artista, que já esteve até com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, chamou a atenção pelo jeito simples que cumprimentava a todos por onde passava. "Aqui ele é alegria em pessoa, mas tem mudado muito nos últimos anos", diz Arlindo Nogueira.

João Artur mora com a esposa Rita Alves numa casa de esquina, com um pé de algaroba fazendo sombra em frente. É tudo muito simples. Sem luxo. Um rádio de pilha, um TV de 14 polegadas, um sofá e um painel de fotos na parede que o faz lembrar dos tempos que era convidado pelos prefeitos - de quase todos os municípios do Rio Grande do Norte - para ministrar palestras e aplicar o que ele chama de 'elixir da alegria, que consistia em sua apresentação de gala com bois de reis e os bonecos gigantes representando a imagem de Câmara Cascudo e Gabriela'.

O artista - que já foi capoteiro, sapateiro e marceneiro - segue esta rotina desde 1976. "Eu vi uma notícia no jornal dizendo que a diversão era necessária e que as pessoas precisam viver com alegria, precisam sair de casa para brincar na praça, dançar forró, ir à missa, ao culto, se divertir", explica João Artur de como teve a ideia de construir o boi de reis para sair à rua divertindo a criançada e também se divertindo. "Não existe nada mais gratificante do que ver a alegria no rosto das pessoas, das crianças", explica.

Depois, o amigo Ricardo Veriano construiu o boneco de Câmara Cascudo, em homenagem ao grande folclorista potiguar. "Aí eu construí Gabriela, em homenagem a minha irmã, para fazer companhia a Câmara Cascudo nos meus desfiles pelas cidades. Também tenho o Jaraguá, que na verdade é uma figura de jacaré", diz João Artur, que quando era convidado para fazer apresentações levava um grupo de mais ou menos 60 pessoas e puxava centenas pelas ruas de Patu e das cidades por onde se apresentou nos últimos 40 anos. "Até pra Lula eu já me apresentei", diz mostrando a foto.

Nas décadas de 80 e 90, João Artur mantinha uma agenda de apresentações. Era regra a turma se reunir para se apresentar no Carnaval e na vitória das eleições, não importando quem é o vencedor, João Artur está lá com seu boi de reis e o 'casal' de bonecos Câmara Cascudo e Gabriela, se divertindo e divertindo as pessoas pelas ruas. Paralelo a estas apresentações, a esposa Rita Alves conta que João Artur recebia convites para se apresentar em escolas e inúmeros eventos em quase todos os municípios do Rio Grande do Norte e Paraíba.

Mas a cultura de João Artur está perdendo o gosto. "Ele agora recebe poucos convites para abrir festas de carnavais nas cidades. O último foi em Caicó, no 'Bloco do Magão', há dois anos. Os bonecos estão guardados num quarto ao lado da casa a contra gosto de Rita Alves. "Mas isto aí é a vida dele, ninguém toca sem que ele esteja por perto para providenciar o zelo necessário", diz Rita, enquanto João Artur reclama da falta de apoio da iniciativa pública para "espalhar o gosto popular e aplicar o 'elixir da alegria' e espantar a tristeza pra lá", diz.

João Artur disse que tem uma preocupação: quem vai sucedê-lo? O meu grande amigo Epitácio Filho disse que vai continuar, mas sinto desinteresse dos mais jovens. Às vezes, é preciso pagar para a pessoa sair com os bonecos. Eles não saem mais pela diversão e para divertir. Também praticamente não existe mais apoio dos prefeitos para sair divertindo nas ruas. A gente vai no comércio e alguns poucos dão ajuda", relata João Artur, reconhecendo que fazer o que ele faz para manter a cultura do boi de reis na região do RN é muito difícil.

Fonte: Jornal de Fato

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