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quarta-feira, 27 de abril de 2011

JESUÍNO, o cangaceiro BRILHANTE!

Autor:
Gil Holanda
(Primo de Epitácio Filho)


Não Foi nem com Lampião
Nem com Antônio Silvino
Mas o cangaço primeiro
Começou com Jesuíno
Que na busca por justiça
Foi um herói genuíno.

Ele nasceu em Patu
No oeste potiguar
Em dezoito e quatro e quatro
E vale a pena lembrar:
Eram os seus pais João Alves
E Alexandrina Alencar.

Como um homem sertanejo
De um sertão abrasador
Foi vaqueiro, comboieiro
E também agricultor,
Jesuíno era exemplo
De “ cabra” trabalhador.

Mas a família dos negros
Limões mudou o seu destino
E tudo se deu assim:
Com o roubo de um caprino
Da estimação de um alpendre
Da casa de Jesuíno.

Naquele tempo furtar algo
Como uma cabra leiteria
Era uma grande ofensa
A uma família inteira
Seja brilhante ou qualquer
Outra família brasileira.

Eram sete os irmãos
Da família dos Limões
Ousados por natureza
Todos eram valentões
Protegidos dos políticos
Lá e em outras regiões.

Além do furto, os Limões
Chico e Honorato Limão
Deram uma forte surra
Em Lucas Alves, irmão
De Jesuíno, na festa
Da vila de Conceição.

Jesuíno foi então
Ao encontro de Honorato
E Chico Limão, com o fim
De poder no mesmo ato
Vingar-se desses Limões
Seus inimigos de fato.

“Prepare-se para morrer”
Gritou Jesuíno Brilhante
Ao encontrar Honorato
Bebendo bem adiante
Na bodega de Botelho
Se achando muito importante.

Com duas apunhaladas
Honorato foi ao chão
Jesuíno condenado
Sofreu ordem de prisão
Pela morte imediata
Desse negro valentão.

Os Limões por vingança
Mataram no mesmo instante
Nas terras de Jesuíno
E de maneira humilhante
José Ferreira Calado
Primo e amigo de Brilhante.

Foram essas desavenças
De seu mundo camponês
Com o grupo dos Limões
E por outras mais talvez
Que no mundo do cangaço
Jesuíno entra de vez.

Além dos negros Limões
Seus inimigos de fé
Delegado de Patu
Brejo do Cruz e Catolé
Sempre com suas milícias
Estavam todos no seu pé.

Assim Brilhante e os amigos
Pirí, Pajeú, Duo,
José, Benício, Delgado,
Padre e Manoel de Ló
Enfrentaram um Sertão
De morte poeira e pó.

Com horror as injustiças
Um poder independente
No sertão se implantou
Era um cangaço pra frente
Comparado com os outros
Sempre foi bem diferente.

De bacamarte na mão
A favor dos humilhados
Fugas defesas e ataques
Vinham de todos os lados
A desafiar o Estado
E os seus grupos armados.

Com seu código de honra:
“De jamais tocar no alheio
E respeitar a família
Não importando o seu meio”
Jesuíno impôs ao bando
Nunca agir por anseio.

Para decantar seus feitos
Enquanto o bando atacava
Os Limões ou a polícia
Uma canção começava
“ Isso é bom corujinha “
E pelo céu se ecoava.

Por oito anos exatos
Os sertões paraibano
E potiguar conheceram
Um cangaço justo e humano
Imposto por Jesuíno
Num país pré-republicano.

Na grande seca que houve
Jesuíno saqueava
A comida dos comboios
Que o governo encaminhava
Mas que por questões políticas
Para os pobres não chegava.

Na sua luta viveu
Sempre em defesa do pobre
Do humilde e do injustiçado
Com um sentimento nobre
Repartia o pão e dizia:
“Não quero que ninguém sobre”.

E pra mulher violentada
Ele tomava as dores
Punindo o infrator no ato
Mesmo num tempo de horrores
Em que nem sequer havia
Punição pra estupradores.

Se alguém um dia tentasse
Uma moça desonrar
Arrastava o sedutor
E um padre de algum lugar
Brilhante logo chamava
Pro casamento celebrar.

Até mesmo da prisão
Da Cadeia de Pombal
Jesuíno libertou
De modo fenomenal
O seu irmão Lucas Alves
Preso de forma ilegal.

Com coragem e ousadia
Jesuíno percorreu
Todo sertão nordestino
Como um herói Europeu
Assim como Hobin Hood
Que injustiças combateu.

JESUÍNO, o cangaceiro
BRILHANTE, teve em São
José do Brejo do Cruz,
Esse lugar do sertão
No oeste da Paraíba
A sua morte em questão.

A morte de Jesuíno
Inda hoje nos comove
Na memória do cangaço
Há quem diga e quem comprove
Foi no final de dezembro
De dezoito e sete e nove.

Numa emboscada da tropa
Do cabo preto limão
Lá no Sítio Santo Antônio
No cavalo Zelação
Com um tiro bem no peito
Jesuíno foi ao chão.

O lugar foi mencionado
Por grandes memorialistas
Como Nonato e Cascudo,
Cantado por repentistas
Que dedilharam o cangaço
Em seus versos cordelistas.

Hoje Ariano dedica
A Jesuíno Brilhante
A sua “Pedra do Reino”
O seu romance gigante
Que consagra o cangaceiro
Como um cavaleiro andante.

E a coragem de Brilhante
Pelo Sertão Potiguar
Também no Paraibano
Prossegue a galopar
No cavalo da justiça
Que um dia há de brilhar.

FIM

Autor: Gil Holanda

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