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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Do Blog da Folha Patuense

O GRANDE ENCONTRO
DO CANGACEIRO JESUÍNO BRILHANTE
COM O CABO PRETO LIMÃO

Autor: Gil Hollanda
Pra quem estuda o cangaço

Foi no tempo do império
Bem antes de Virgulino
Em dezoito e sete e nove
Que o cangaço nordestino
Tem datado em sua história
Esse confronto assassino.


Trata-se do grande encontro
Do Cabo Preto Limão
Com Jesuíno Brilhante:
Um herói, outro vilão
Ou um vilão, outro herói?
Eis a tal da discussão.


JESUÍNO BRILHANTE


Meu nome é Jesuíno
Sou Brilhante, sim senhor!
Conhecido no sertão
Como um nobre vingador
Que assim como Robin Hood
Do pobre sou defensor.


PRETO LIMÃO


Esta é sua versão
Seu ‘amarelo assassino’
Pra querer ser um herói
Mas agora eu lhe ensino
O bê-á-bá dos limões
Que aprendi desde menino.


JESUÍNO BRILHANTE


Já começa o atrevimento
Nem se apresenta sequer
E quer logo entrar na história
Só falando o que bem quer
Diga primeiro quem é
Pois eu não sou um qualquer.


PRETO LIMÃO


Eu sou o Cabo José
O Cabo Preto Limão
Sento praça na polícia
Com esta arma na mão
Sou a vingança e a justiça
Dos negros deste sertão.


JESUÍNO BRILHANTE


Qualquer negro na polícia
É somente um pau mandado
A serviço do poder
Conservador deste Estado
Justiça aqui não existe
A não ser do meu ‘bargado’.


PRETO LIMÃO


Este sertão não é seu
Aqui a lei é do cão
Não se esqueça que sou livre
Mesmo em plena escravidão
Estou aqui pra vingar
A morte de mais um irmão.


JESUÍNO BRILHANTE


Por vingança aos limões
No cangaço eu entrei
O seu irmão Honorato
Fui eu mesmo que matei
Mas por suas desavenças
Fiz valer a minha lei.


PRETO LIMÃO


Que lei é essa, seu cabra?!
A lei de um cangaceiro
Foragido da polícia
Que se diz ser justiceiro?
Vou lhe mostrar agora
Quem manda neste terreiro!


JESUÍNO BRILHANTE


Mandar por aqui, seu negro
Não é gritar lá na feira:
"Quebra os quilos! Quebra os quilos!"
E sair na quebradeira
Por não achar que a balança
Tem medida verdadeira.


PRETO LIMÃO


Fui um ‘quebra-quilo’, sim
Mas hoje, não sou mais não!
Já sou o dono da feira
E também tenho o meu chão
Só falta agora acabar
Com seu cangaço do cão.


JESUÍNO BRILHANTE


Meu cangaço é do bem
Não sou ladrão de caprino
E nunca toco no alheio
Respeito o velho e o menino
Sou defensor da mulher
E do pobre nordestino.


PRETO LIMÃO


Chega de contar proeza
De querer ser o mocinho
Cangaceiro é bandido
Não importa o seu caminho
Se é assim tão valente
Me enfrente agora sozinho.


JESUÍNO BRILHANTE


Jagunço não é polícia
Seu Limão desaforado
Mal saísse da senzala
Como negro alforriado
E já acha então que pode
Mandar aqui no arruado.


PRETO LIMÃO


E em qualquer outro arruado:
Imperatriz, Mossoró
Patu, Brejo ou Catolé
Cangaceiro vira pó!
Pois comigo na polícia
Meu comando é um só.


JESUÍNO BRILHANTE


Ora, ora, quem já viu!
Um negro fujão da guerra
 Da Guerra do Paraguai
Um quilombola da serra
Que matou o nosso alferes
Se achando o dono da terra.


PRETO LIMÃO


Eu somente luto e mato
Pra proteger minha gente
A minha guerra é outra
Meu Brasil é diferente
Paraguai eu nem conheço
Pra botar neste repente.


JESUÍNO BRILHANTE


Isto aqui não é repente
É a Lei de Talião
Meu código é de honra
Com minha arma na mão
Meu verso tem sete tiros
É um pra cada Limão.


PRETO LIMÃO


Preparada a ferro e fogo
Minha arma é de aço
Desista desta peleja
Acabou o seu cangaço
Esta bala envenenada
Vai deixá-lo no bagaço.


JESUÍNO BRILHANTE


No bagaço vou deixá-lo
Já queimei seu limoeiro
E um limão não faz verão
Dá um suco bem ligeiro
Pra com cachaça virar
Bebida de cangaceiro.


PRETO LIMÃO


Aqui é olho no olho
E também dente por dente
Limoeiro tem espinho
E limão deixa semente
Cangaceiro vira adubo
Ao ficar na minha frente.


JESUÍNO BRILHANTE


Ô negro metido a besta!
Pensa até que é eterno
Limão preto não se planta
Nem no verão nem no inverno
Porque semente daninha
Só se planta no inferno.


PRETO LIMÃO


Mas o inferno é aqui
Seu ‘amarelo maldito’
Se pensa que vai pro céu
(O que eu não acredito)
Comece logo a rezar
Pro grande São Benedito.


JESUÍNO BRILHANTE


Neste sertão de injustiças
A vingança me devora
Pra onde vou não importa
Ao chegar a minha hora
Se lá pro céu eu não vou
Pro inferno lhe mando agora.


Mas naquele mesmo instante
Jesuino foi cercado
Pela tropa da polícia
E com destino marcado
Jesuíno teve ali
Seu cangaço sepultado.


E uma trova popular
Ecoou pelo sertão:
"Já mataram Jesuíno!
Acabou-se o valentão!
Morreu no campo de honra
Sem se entregar à prisão


Fim

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